ATA DA CENTÉSIMA QUINQUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO
ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM
04.12.1990.
Aos quatro dias do mês de dezembro do ano de mil
novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a
Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima Quinquagésima Primeira
Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura.
Às quatorze horas e quinze minutos tendo sido constatada a existência de
“quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou fossem
distribuídas em avulsos cópias das Atas da Quadragésima Sessão Solene, da
Centésima Quinquagésima Sessão Ordinária, da Vigésima Nona e Trigésima Sessões
Extraordinárias que, juntamente com as Atas da Centésima Quadragésima Nona
Sessão Ordinária, Trigésima Nona Sessão Solene e Vigésima Oitava Sessão
Extraordinária, deixaram de ser votadas face à inexistência de “quorum”
deliberativo. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Airto Ferronato, 04 Pedidos
de Providências; pelo Ver. Cyro Martini, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver.
Ervino Besson, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. José Alvarenga, 01 Pedido
de Providências; pela Verª Letícia Arruda, 01 Indicação; 33 Pedidos de
Providências. Do EXPEDIENTE constaram Ofícios nºs 01/90, da Comissão Especial
constituída para examinar o Projeto de Lei Complementar da Legislativo nº
22/90; 468/90, do Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Sul. Em
COMUNICAÇÕES, o Ver. Dilamar Machado registrou notícias do Jornal do Comércio e
do Correio do Povo, de hoje, acerca da “absurda elevação do custo de vida nos
últimos três meses em Porto Alegre”, criticando o Governo Collor de Mello pelo
descaso demonstrado para com o Estado do Rio Grande do Sul. Salientou ser a
elevação do custo de vida superior aos índices da inflação, e instou pela união
da população contra esse “absurdo”, lembrando que o País, atualmente, “está
convivendo com a inflação e a recessão”. O Ver. Vieira da Cunha discorreu
acerca da realização, hoje pela manhã, da primeira reunião da Comissão Especial
constituída para regulamentar os Conselhos Municipais. Salientando que das
sessenta entidades convidadas, apenas oito participaram da referida reunião,
apelou para que os Senhores Vereadores participem da reunião marcada para a
próxima segunda-feira, asseverando ser de extrema importância para a
comunidade, este debate. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Ervino Besson,
discorrendo acerca de notícia do jornal Zero Hora, de hoje, sobre os cinco anos
da morte de Teixeirinha, historiou sua origem humilde e sua trajetória na
música regional brasileira. Teceu comentários sobre o sucesso do artista, no
Brasil e no Exterior, cantando e tocando músicas de sua autoria, bem como “a
desilusão amorosa do mesmo que culminou com a sua morte”. O Ver. Luiz Braz,
referindo-se acerca de projeto aprovado pela Casa, sobre estacionamento
rotativo, denunciou fatos que estão ocorrendo envolvendo guardadores de carros
que possuem, para venda, cartelas de estacionamento. Solicitou providências do
Executivo Municipal, no sentido de que o repasse dessas cartelas seja feito a
pessoas que estejam realmente dispostas a colaborar com a Cidade. Em
COMUNICAÇÕES, o Ver. José Alvarenga pronunciou-se sobre nota publicada no
jornal Correio do Povo, de hoje acerca do pedido de licença de S. Exa. no dia
da escolha da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Discorrendo sobre seu
posicionamento pessoal nessa escolha, salientou aspectos que deveriam ser
observados, como “o respeito à proporcionalidade e ao princípio da
publicidade”. E sugeriu realização de debate sobre questões que envolvem a
formação de chapa para a Mesa Diretora, com ampla cobertura pelos meios de
comunicação. O Ver. Airto Ferronato, referindo-se à votação do Orçamento
Municipal para o próximo ano, asseverou que o resultado foi bom para a Cidade
de Porto Alegre. Analisando as diversas Emendas apostas ao Projeto, discorreu a
respeito dos recursos inicialmente destinados à Cia. Carris Portoalegrense,
para aumento de capital. O Ver. Gert Schinke, tecendo considerações acerca de
projeto que institui o Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Porto
Alegre, o qual entrará em votação nos próximos dias, salientou o significado do
mesmo para a Cidade. Asseverou que preservar o corpo do projeto é fundamental,
admitindo, no entanto, que Emendas Supressivas possam ocorrer, visando o
aprimoramento do mesmo. O Ver. Omar Ferri, comentando notícia publicada no
Correio do Povo, de hoje, onde o Jornalista José Barrionuevo assinala “denúncia
de caixinhas nos gabinetes e pedido de cassação de um Vereador, por corrupção”,
discorreu a respeito. E, lendo trecho da carta distribuída aos Senhores
Vereadores, solicitou providências à Presidência da Casa, para que se
esclareçam os fatos. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Adroaldo Correa,
salientando o posicionamento do PT a respeito das denúncias envolvendo um
Vereador desta Casa, asseverou que as mesmas “devem ser provadas e que o réu é
inocente, até prova em contrário”. E teceu comentários acerca do documento
protocolado pelo ex-Assessor do Ver. Clóvis Brum, denunciando e pedindo a
cassação do referido Vereador, o qual foi endereçado à Presidência da Casa, que
tomará as providências cabíveis para o esclarecimento dos fatos. Após, o Senhor
Presidente acolheu Questões de Ordem dos Vereadores Omar Ferri e João Dib,
acerca do Processo nº 2499/90. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente
declarou encerrados os trabalhos às quinze horas e quarenta e nove minutos,
convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às
dezessete horas, e convocando-os para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Lauro Hagemann e Edi
Morelli, este nos termos do artigo 11, parágrafo 3º do Regimento Interno, e
secretariados pelo Ver. Adroaldo Correa. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE
(Lauro Hagemann - às 14h15min): Estão abertos os
trabalhos da presente Sessão.
Passamos ao período de
Com a palavra o Ver. Wilton
Araújo. Por decisão da Bancada, ocupa o espaço o Ver. Dilamar Machado.
O SR. DILAMAR
MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o “Jornal do Comércio”
e o “Correio do Povo”, em suas edições de hoje, divulgam matérias da área
econômica, extremamente preocupantes para nós, Vereadores, e para qualquer
chefe de família desta Cidade, ou qualquer cidadão. Diz respeito a matéria do
“Jornal do Comércio” - e no mesmo sentido publica o “Correio do Povo” - à
absurda elevação do custo de vida em Porto Alegre nos últimos três meses.
Existe um gráfico nesses jornais que mostra que, após o Plano Collor, que não
vem dando resultado em lugar nenhum, em Porto Alegre o custo de vida é superior
à inflação, ao IPC. O custo de vida bate todos os índices de indexação, todos
os níveis de medição do processo inflacionário.
Eu sei que tem certas coisas que
político faz que podem parecer até pueris, poéticas ou absurdas, mas eu tenho
notado que, ao longo desse Governo Collor de Mello, a ausência de autoridades
governamentais da área federal no Rio Grande do Sul já chega a ser um acinte,
quase que um deboche, um desleixo para com nosso Estado. Estou encaminhando,
nesta data, à Ministra Zélia Cardoso de Mello um telex transmitindo a S. Exª,
que talvez considere o Rio Grande do Sul fora da geografia brasileira, esses
dados estarrecedores sobre o custo de vida em Porto Alegre, capital dos
gaúchos. Estou pedindo a presença da Ministra e de sua assessoria econômica,
para que venham, quem sabe, conversar com a FIERGS, a FEDERASUL, o CDL, o
Sindilojas, para ver se os empresários dessa área e desses setores,
particularmente os comerciantes de Porto Alegre, os proprietários de supermercados
de Porto Alegre, resolvem examinar com olhos mais patrióticos ou mais sociais
essa estúpida situação de chegarmos ao mês de dezembro sem que o consumidor
porto-alegrense tenha qualquer possibilidade de compras, embora deixando de
lado o aspecto mercantilista do Natal, que transforma uma festa religiosa num
grande negócio para as lojas, supermercados, magazines, casas de brinquedo; ou
então que o povo desta Cidade, através das lideranças efetivamente
comprometidas com o movimento popular, face à ausência e à negligência da área
econômica do Governo Federal, da fiscalização quanto ao absurdo aumento do
custo de vida, possa tomar uma medida que é muito salutar: cada dona de casa,
cada chefe de família entender que não se deve submeter a esta violência de lucros.
Quando em qualquer país
civilizado do primeiro mundo o lucro médio do investidor, do empresário, do
industrial, do comerciante, é fixado na faixa de 30%, o nosso empresário
tupiniquim não se contenta com menos do que 300% em qualquer produto a venda,
em supermercado ou loja. Basta examinar o custo da produção na fábrica ou,
quando se tratar de setor primário, o preço para o efetivo produtor, o
agricultor, e examinarmos o custo final para o consumidor. É,
indiscutivelmente, uma aberração, uma desumanidade. E o interessante é que
ninguém faz nada, apenas os jornais publicam que Porto Alegre tem o custo de
vida mais alto da sua história. Neste mês de novembro, que acabou, o custo de
vida em Porto Alegre aumentou acima da inflação e, sabidamente, os salários dos
funcionários federais, dos funcionários estaduais, dos funcionários municipais,
dos trabalhadores, de um modo geral, estão achatados pela ganância de quem
produz e quer cada vez ganhar mais. Enquanto o consumidor não tem sequer como
comprar o rancho para sua família, não consegue pensar em comprar um presente
de Natal para o seu filho, há um pequeno grupo privilegiado desta Nação que
lota todos os vôos para a Europa. Não há uma passagem aérea disponível, não só
para a Europa, para Paris, para Londres, para Roma, para Curaçao, Ilha
Margarita. As aeronaves internacionais estão lotadas. Há um show programado
aqui para Porto Alegre, e já está com a lotação esgotada, por 14 mil o
ingresso, para assistir ao grande astro musical norte-americano, Ray Charles.
Quatorze mil é quase duas vezes o salário mínimo do trabalhador neste País.
O Sr. Omar Ferri: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Com a abordagem que
V.Exª faz, com relação ao tema, V. Exª diz que ninguém faz nada, e eu gostaria
de fazer alguma coisa. Mas indago: o que fazer, Sr. Vereador? Esse é o
problema.
O SR. DILAMAR
MACHADO: A minha sugestão - mas quero, antes, registrar a
presença, nas nossas galerias, a presença de um líder comunitário de Gravataí,
Vereador mais votado, Júlio Caetano Machado, embora Machado, não é meu parente,
mas amigo, e um dos grandes lutadores pela problemática dos mutuários das
COHABs de Gravataí, contra o poder econômico, e admitir que lá o custo de vida
está acima da capacidade do consumidor. O Ver. Ferri pergunta o que fazer, e
vou dar uma sugestão, não sei se conseguimos isso, porque o nosso povo não está
preparado para isso, para essa luta, mas se todos nós, que temos uma forma de
liderança maior ou menor, ensinarmos o povo a não se submeter à ganância dos
empresários, dos lojistas, dos comerciantes, e o povo parar de comprar, o pai
de família explicar aos seus filhos que é mais importante reservar o que sobra
para poder dar escola e saúde ao filho, do que uma bicicleta, ou um brinquedo
japonês - não aquela bicicleta do Ver. Gert, mas aquela bicicleta de luxo -,
uma espécie de boicote, Ver. Ferri. Isso regula o mercado, mas será que o povo
tem condições disso? Devolvo a pergunta.
O Sr. Omar Ferri: Sob o ponto de vista econômico, o Governo pretende, ou entende de tomar
uma medida que atende as aspirações de V. Exª, no momento em que o Governo
retira do mercado dinheiro - e são bilhões de cruzeiros. O objetivo é
exatamente diminuir a demanda. Acontece que o outro lado dessa história é o
desemprego. Então, veja que, sob o ponto de vista da moderna economia, estamos
frente a um beco sem saída. Não existem opções.
O SR. DILAMAR
MACHADO: E o incrível é que estamos convivendo com a
inflação e a recessão. Se, efetivamente, o projeto de inflação zero tivesse
dado certo, com estas medidas citadas pelo Ver. Ferri... Mas, na verdade, quem
perdeu com o enxugamento do meio circulatório? Atingiu apenas ao povo
brasileiro, os mortais, os pobres mortais. A pessoa física, o aposentado, o
operário, o funcionário público, o professor, o advogado, o profissional
liberal que tinha o seu dinheiro na poupança. Porque os outros empresários - o
Sr. Ermírio de Moraes, o Sr. Mário Amato, Mário Garnero, Valente, estes aí -
imediatamente transformaram os seus cruzados em cruzeiros.
O Sr. Omar Ferri: Eu estava lendo, Ver. Dilamar Machado, hoje ao meio-dia, algumas
concepções do Sr. John Maynard Keynes. A conclusão dele é exatamente a sua
conclusão. Eu não sei se V. Exª plagiou o Sr. Keynes ou o Sr. Keynes plagiou
Vossa Excelência. A última hipótese, na minha opinião, é a mais correta.
Sempre, em qualquer circunstância, o povo sai perdendo.
O SR. DILAMAR
MACHADO: E, lamentavelmente, neste momento o povo de Porto
Alegre, o povo que nós representamos, sofre um custo de vida nunca visto na história
da Cidade. Os empresários, lojistas, comerciantes, estão ganhando o que nunca
ganharam. Agora, isto tem que terminar um dia. Eu dou os parabéns às equipes
econômicas do “Jornal do Comércio”, “Correio do Povo” que levantaram esta
matéria coincidentemente no mesmo dia, com dados, com gráficos, provando que o
custo de vida em Porto Alegre está mais alto que a inflação. Alguma coisa
precisa ser feita. Nós estamos encaminhando um telex à Ministra Zélia,
convidando para que ela venha a Porto Alegre, traga a sua equipe econômica. Ela
é tão ciosa em melhorar as condições deste País, pois que venha aqui examinar
porque o custo de vida está nestas alturas estratosféricas, e a quem está
beneficiando esta situação. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vieira da Cunha em Comunicações.
O SR. VIEIRA DA
CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, realizamos, hoje
pela manhã, a primeira reunião da Comissão Especial constituída nesta Casa para
discutir e dar parecer a Projeto de Lei Complementar de autoria deste Vereador,
que pretende regulamentar o art. 101 da Lei Orgânica do Município, que
institucionaliza os Conselhos Municipais em Porto Alegre.
Eu protocolei este Projeto no mês
de outubro deste ano, e visa disciplinar, regulamentar os Conselhos Municipais,
estabelecendo o número de membros de cada um, nominando quais são os Conselhos
e dispondo sobre os critérios de eleição dos Conselheiros comunitários e de
designação dos Conselheiros de entidades e aqueles que representarão o Executivo
Municipal.
Foram expedidos sessenta e um
convites para entidades de classe, para órgãos públicos e também para a União
dos Moradores de Porto Alegre e para o Sr. Secretário do Município. Nós tivemos
a presença de apenas oito entidades das sessenta convidadas. E o Senhor
representante do Executivo, convidado, justificou sua ausência em razão de
compromissos com a equipe de governo, já estabelecidos previamente. Nós não
tivemos condições de aprofundar a discussão, haja vista o “quorum” reduzido de
participação nesta primeira reunião. Entretanto, algumas sugestões valiosas
foram levantadas por vários participantes da reunião e se esboçou uma discussão
preliminar sobre o assunto. Marcamos outra reunião com as entidades presentes
para segunda-feira próxima, às 9h30min, quando então contaremos com a presença
do Sr. Secretário do Governo, representando o Executivo Municipal. Fazemos,
desde já, um apelo aos companheiros Vereadores para que participem desta
reunião de segunda-feira próxima, já que entendemos esta discussão dos
Conselhos Municipais como uma das discussões mais relevantes e mais importantes
para a cidade de Porto Alegre, para o Município de Porto Alegre.
Talvez essas entidades que
receberam esse primeiro convite não tenham se dado conta da importância e da
relevância desse tema e dessa discussão. Esta observação foi feita, inclusive,
por um dos representantes de entidades que compareceu à reunião e, depois de
ler o Projeto e de participar das discussões, levantou esta observação de que
certamente as entidades que receberam o convite e que não compareceram não se
aperceberam da profundidade e da importância desse tema. Nós estamos tratando,
na discussão desse Projeto, da própria estrutura de poder no Município de Porto
Alegre. Se nós aprovarmos a regulamentação dos Conselhos, conforme proposto
nesse Projeto de Lei, nós democratizaremos o poder em Porto Alegre. Não no
discurso, não na teoria, mas na prática de governo. Nós temos assistido
compromissos, no campo do discurso, compromissos teóricos, de chamar a
população, de discutir com a população para encaminhar os problemas da Cidade.
Mas quando se tratam de fatos concretos, quando se tratam de decisões
concretas, eu pergunto quando a população tem sido ouvida.
Eu pergunto, Ver. Wilson Santos,
se para colocar a tarifa de ônibus de Porto Alegre a Cr$ 45 - como uma das mais
caras, senão a mais cara, do País - que segmento social foi ouvido. Com que
segmento da população esse tema foi debatido? Quem participa dessas decisões?
Quem participa dessas decisões, Ver. Wilson Santos, é um Conselho Municipal dos
Transportes viciado, não por culpa dos seus componentes, mas por culpa da
estrutura atual, dos critérios atuais de composição desses Conselhos, que dão
ao Executivo a maioria nesses Conselhos e que lhes dá apenas o caráter de órgão
opinativo, de órgão consultivo. Na medida em que nós tivermos funcionando, em
Porto Alegre, conselhos municipais democráticos, que tenham a maioria, na sua
composição, de representantes eleitos pela comunidade, aí, sim, nós teremos o
poder democratizado em Porto Alegre. Vale dizer: teremos decisões que emanam
verdadeiramente dos interesses da maioria da população.
O Sr. Wilson Santos: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Temos que lutar
para o aperfeiçoamento da democracia. Em relação ao excedente de custo, o plus
tarifário, estou perplexo de ver que as associações de moradores de bairro não
foram mobilizadas. Fiz um ofício há mais de vinte dias ao Presidente da UAMPA
para que ele me respondesse sobre a posição da entidade no que diz respeito ao
assunto. Fiquei preocupado, quando se votava o Projeto de uso real do solo, do
Ver. Lauro Hagemann, porque as decisões, para serem democráticas, têm que ser,
comprovadamente, decisões da maioria de um segmento. Eu queria colocar uma
emenda, tomando por exemplo a UAMPA, que uma decisão da Direção da UAMPA, para
falar em nome das trezentas associações, no meu entendimento, deveria ter, no
mínimo, um quesito, uma ata com a presença do Presidente ou 2º Vice-Presidente
de no mínimo 50% das associações, ou seja, de no mínimo 150 presenças e
assinaturas de debates. Preocupa-me que uma tomada de decisão tenha uma ampla
consulta. Eu, por exemplo, para falar em determinados momentos, em nome da
associação político-partidária PL - e, inclusive, há pouco fui Presidente
regional do PL - entendia que para determinados assuntos temos que convocar uma
Assembléia Geral de filiados e tirar, da opinião daquele grande elenco, uma
posição. V. Exª tem razão, geralmente a entidade fala em seu nome e em nome
daquela cúpula, não há uma consulta ampla. Preocupo-me com isso, acho que temos
que descer lá na base e alargar o universo de consulta, para que se tenha uma
decisão democrática.
O SR. VIEIRA DA
CUNHA: Veja, Ver. Wilson Santos. O critério de eleição
dos conselheiros comunitários, pelo Projeto de Lei, é a eleição pelas
comunidades. Baseados em estudos que existem na Secretaria do Governo, há
bastante tempo, e em seminários realizados com as entidades comunitárias,
associações de moradores, em Porto Alegre, estamos propondo a divisão de Porto
Alegre em doze regiões, e em cada uma dessas doze regiões se fará uma
assembléia geral com a finalidade específica de eleger os doze representantes
comunitários para cada um dos conselhos, cada região elegerá um conselheiro
comunitário para representá-la em cada conselho, sendo que o número de
conselhos proposto é de treze.
O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Só para registrar,
Ver. Vieira da Cunha. O que V. Exª coloca em seu Projeto é a democratização de
uma parte do aparelho do Estado. Até aí, tudo bem. Agora, o aparte do Ver.
Wilson Santos, ele pretende por decreto interferir numa coisa, num assunto que
é exclusivo do movimento comunitário. O movimento comunitário é que tem que
definir como se estabelece a democracia interna, do contrário é uma
interferência indevida.
O SR. VIEIRA DA
CUNHA: Pelo que entendi, o Ver. Wilson Santos se
posicionou criticamente a respeito do silêncio da UAMPA a respeito do plus
tarifário, no que acho que S. Exª está coberto de razão, porque é um dos
assuntos mais polêmicos da Cidade, é um assunto que diz respeito exatamente aos
filiados da UAMPA, cuja imensa maioria, talvez 99%, se utilize do transporte
coletivo, se utilize do transporte coletivo por ônibus e a UAMPA, nesse
sentido, se não responde ao Ver. Wilson Santos há mais de vinte dias,
infelizmente tenho que admitir que está havendo uma omissão da entidade. Me
proponho, inclusive, finalizando, a acionar juntamente com o Ver. Wilson Santos
a UAMPA, a fim de que ela se posicione a respeito do plus tarifário, porque o Decreto foi ilegal, no meu ponto de vista.
Foi o do Prefeito, estabelecendo plus
tarifário à revelia de uma Lei votada por esta Casa, que estabelece uma
planilha, uma metodologia de cálculo da tarifa, metodologia na qual não está
previsto este plus tarifário que o
Sr. Prefeito impingiu ilegalmente e anti-democraticamente à população de Porto
Alegre há vários meses.
O Sr. José Valdir: É que o Ver. Wilson Santos quis estabelecer até percentual para a
Direção da UAMPA poder falar em nome da Cidade. Isso compete ao movimento.
Quanto à crítica em relação à Direção, é, tem direito de fazer. Agora, não pode
se intrometer no movimento.
O SR. VIEIRA DA
CUNHA: Eu entendo o aparte de V. Exª e ratifico a
filosofia do aparte no sentido de que tem que ser preservada a autonomia do
movimento comunitário em Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Para uma Comunicação de Liderança, com a palavra o Ver. Ervino Besson,
pela Bancada do PDT.
O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, cinco anos, hoje, está completando a
morte do nosso querido e saudoso amigo Teixeirinha. Teixeirinha foi um menino
pobre que nasceu em Passo Fundo. Quando tinha nove anos, a mãe dele muito
doente, porque sofria de ataques epiléticos, veio a cair no fogo e falecer. Uma
trágica morte, morreu queimada. E Teixeirinha, com apenas nove anos de idade,
se largou mundo afora, para tentar a sua própria sorte. E os anos foram
passando. E Teixeirinha, tenho certeza, a memória deste artista está bem viva
na mente de cada um de nós. Teixeirinha, com sua musicas gaúchas, gravou 65 LPs
e fez 766 músicas. Músicas todas elas de sua autoria.
E nós que tivemos oportunidade de
acompanhá-lo em diversos shows, principalmente nas cidades do interior
do Estado. Ele conseguia, Ver. Heriberto Back, quando ele se apresentava nos
pequenos Municípios do interior, levar verdadeiras multidões que apreciavam
suas canções, suas criatividades.
E os anos foram se passando, mas,
Srs. Vereadores, Teixeirinha, que não teve, como outros artistas, a televisão
com suas portas abertas, a imprensa do seu lado, ele não tinha isso, mas nem
por isso ele deixava de levar a sua mensagem, as suas canções, para o grande
público desse País, e também no exterior. Teixeirinha, depois de longos anos,
veio a separar-se da sua segunda esposa, pela qual ele tinha paixão mortal,
pela Mery Teresinha. E a prova está aí, é do conhecimento de todos. Quando ele
se separou da Mery, um dia este Vereador se encontrou com ele em Capão da
Canoa, onde veraneava. Ele me disse: “A minha vida está morrendo aos poucos. Eu
estou preparando uma música e essa música está quase no fim. Ao finalizar essa
música, a minha vida também chegará ao fim”.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Para uma Comunicação de Liderança, a palavra com o Ver. Luiz Braz. V.
Exª tem cinco minutos.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, nós ficamos muito tempo aqui nesta
Casa tentando aprovar um Projeto de Lei chamado de “estacionamento rotativo”.
Fizemos uma grande discussão em cima deste Projeto de Lei, verificamos uma Lei
anterior, da época, inclusive do Ver. João Dib, na Prefeitura Municipal.
Conseguimos conciliar os interesses da Casa com referência a este Projeto do
estacionamento rotativo e aprovamos o Projeto aqui na Casa. Aí, começou a fase
de implantação. Como foi difícil a fase de implantação! Foi muito difícil. Nós
mesmos fomos várias vezes ao Dr. Alceu Collares, quando ele era Prefeito
Municipal aqui de Porto Alegre, para tentarmos a implantação do estacionamento
rotativo, e não conseguimos com o Dr. Collares, apesar de ele achar que o
Projeto era bom, que tinha que ser cumprido, que a Lei tinha que ser cumprida,
mas nós não conseguimos com ele a implantação do estacionamento rotativo.
Alegava ele uma série de motivos.
Eu vi com bons olhos o interesse
da Administração da Frente Popular com referência ao nosso Projeto do
estacionamento rotativo e à implantação, os estudos finais, a implantação,
finalmente, do estacionamento rotativo no Centro da Cidade. Isso realmente veio
a melhorar as condições daqueles que buscam o Centro da Cidade para fazerem
negócios rápidos em bancos, comércio em geral, para fazerem contatos rápidos
com o Centro da Cidade, e que não têm onde deixar os seus veículos. E no
estacionamento rotativo encontram o lugar ideal com uma cartelinha, pagando um
preço baixo, deixando o seu veículo para fazerem seus negócios. Mas, hoje, eu
fiquei sabendo de algo que não está, realmente, correto, e que se não for
corrigido, poderá estragar todo o espírito do Projeto.
Existem determinadas pessoas que
ficam com as cartelas nas ruas da Cidade, nos pontos do estacionamento,
vendendo-as. Quem compra as cartelas, pode estacionar naquelas áreas vagas que
estão sendo guarnecidas pelos vendedores, ou pseudovendedores. Se não comprar a
cartela daquele vendedor, não pode estacionar naquele ponto, não pode ficar
ali. E hoje um amigo meu, Dr. Milton Feliciano, da Distribuidora
Porto-Alegrense de Publicações, me dizia que a sua esposa comprou uma cartela,
estava com ela na mão, foi estacionar num local e foi proibida de estacionar
por um desses guardadores que estava com um jogo de cartelas na mão para ser
vendido. Como ela já tinha a cartela na mão, não quis comprar do guardador, e
este a proibia de estacionar. Ela foi chamar um guarda, que fez com que o
guardador cedesse o local. Ele talvez estaria guardando para algum cliente seu.
Ela estacionou, mas quando foi buscar o carro, o mesmo estava com os pneus
vazios.
Então, a mesma coisa que
acontecia na Cidade antes de criarmos o estacionamento rotativo, o que tentamos
coibir, que era o abuso dos guardadores de automóveis. Ou se dava o dinheiro
adiantado para eles, ou o carro aparecia riscado ou de pneus vazios. A mesma coisa
está acontecendo agora com a vigência da Lei. Agora é mais grave, porque existe
uma Lei. Simplesmente, essa Lei, de alguma forma, está sendo burlada, e aqueles
mesmos que estavam atentando contra os veículos estacionados no Centro da
Cidade continuam fazendo pressão em cima das pessoas que querem estacionar. Ou
compra uma cartela de estacionamento deles, ou não estaciona. Se estacionar na
marra, porque tem o direito de estacionar, terá o perigo de ter o seu veículo
danificado.
É uma denúncia que fazemos, para
que os meus amigos que fazem parte da Administração da Frente Popular possam
tomar as devidas providências e os cuidados necessários para que o repasse
dessas cartelas seja feito para pessoas que estejam realmente dispostas a
colaborarem com a Cidade e com o Projeto elaborado pela Administração. Senão,
vai tudo por água abaixo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. José Alvarenga, em Comunicações.
O SR. JOSÉ ALVARENGA:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em primeiro
lugar, quero deixar claro que esta comunicação que faço, faço-a em meu próprio
nome, tem caráter pessoal, não a faço em nome do meu Partido, que tem uma
posição diferente da que eu vou sustentar da tribuna. Hoje, o Jornalista José
Barrionuevo, na sua coluna no “Correio do Povo”, dizia que o Ver. José
Alvarenga ainda não se decidiu sobre o seu pedido de licença, no dia 15, quando
será eleita a nova Mesa Diretora da Câmara Municipal. Eu não sei quem deu esta
informação ao Jornalista. Eu não entrei em contato com ele, mas, em função
disto, eu resolvi me pronunciar desta tribuna, porque este Jornalista colocou
esta nota e eu já enviei a ele uma nota, colocando a minha opinião, na semana
passada, sobre as tratativas em torno da Mesa Diretora, e ele não publicou uma
linha sobre o que eu havia remetido à redação do jornal.
Acho que a Mesa Diretora da
Câmara precisa responder a alguns princípios elementares, e eu tenho certeza
que todos os Vereadores irão concordar comigo. Em primeiro lugar, deve respeitar
a proporcionalidade, ou seja, o peso específico da representação dos Partidos
na Câmara Municipal. Deve respeitar o princípio da publicidade: todos os
encaminhamentos que envolvem as chapas devem, na minha opinião, ter ampla
cobertura pelos meios de comunicação, pelas entidades desta Cidade.
Em segundo lugar, sem dúvida
nenhuma, as chapas devem se formar a partir de programas determinados e
consensuais entre os membros que apóiam esta determinada chapa. E este
programa, certamente, deve prever a transparência de todos os atos da Mesa
Diretora, a democracia, deve agilizar os trabalhos desta Casa, no que diz
respeito aos Projetos, proposições dos Vereadores.
No momento, temos duas
articulações em curso na Câmara Municipal: a primeira delas, com contornos mais
definidos, encabeçada pelo PT, pelo PDS e PSB, e setores de outros Partidos; e
uma segunda articulação, que é fundamentalmente sustentada pelo PDT, e com
diversos apoios, citando o PMDB, PTB. Sinceramente, digo que, por ora, não me
encontro em condições de apoiar nenhuma das duas articulações. Acho que, pelo
menos, dois princípios, duas orientações que deveriam nortear a formação das
chapas, ou de uma chapa unificada, que dirija a Mesa nos próximos dois anos,
não estão sendo observados.
Falo, em primeiro lugar, da
proporcionalidade. Nenhuma das duas chapas, na minha opinião, respeita esse
critério, ou seja, o peso específico de cada Partido na Câmara, e quero deixar
bem claro que, com isso, não estou colocando nenhum obstáculo à candidatura do
nosso companheiro de Bancada, Antonio Hohlfeldt, um dos propostos a dirigir a
Câmara. Pelo contrário, acho que o Antonio é um Vereador de grande competência,
sempre dando fartas demonstrações de compromisso com esta Cidade. A sua atuação
não pode ser questionada, sob o ponto de vista moral, e, na minha opinião, é um
excelente candidato à Presidência da Câmara. Acho que ele deveria presidir a
Câmara Municipal de Porto Alegre, porque o PT é a segunda Bancada, e tivemos,
por dois anos, a Presidência conduzida pelo PDT.
Sr. Presidente, eu acho que é um
direito do PT, um direito do nosso Partido reclamar a Presidência da Câmara
nestes próximos dois anos. Em segundo lugar, eu acredito que há, claramente, um
subdimensionamento do PDT nesta proposta apresentada e sustentada pelo PT e
pelo PDS. Acho que isto é claro, absolutamente desnecessário me alongar sobre
este aspecto. Neste sentido também está ferido o princípio da
proporcionalidade.
Há um outro princípio, na minha
opinião, ferido pelas duas articulações. Eu estou falando do princípio da
publicidade. E falo, em particular, em nome de vários companheiros que vieram
aqui na assistência deste Plenário e me chamaram no canto e me perguntaram:
“Como é que está este acordo com o PDS, do PT com o PDS?”. E na rua,
freqüentemente sou questionado, no sindicato e no movimento social, já que não
foi discutido de forma aprofundada, pelos Partidos. Não houve, na minha
opinião, um acompanhamento devido, necessário, para que esta chapa viesse a se
confirmar nesta Câmara. E é justamente por isso que eu acho que todo o
encaminhamento que envolve a composição de chapas para a Mesa Diretora deve ser
debatido.
Nós tivemos, agora há pouco, a
votação do Orçamento, e acho que a postura que o Partido Democrático
Trabalhista teve, em vários momentos daquela discussão, foi uma postura que em
absoluto contribuiu para que nós pudéssemos dar um passo adiante no sentido de
que nós tentássemos compor uma nova articulação. Eu acho que este é o motivo
principal. Com esta chapa vamos levar traumas nesta Casa. Acho que não
interessa nem à população nem aos partidos políticos. E eu gostaria muito de
ver uma discussão entre as principais Lideranças desta Casa, que concluíssem
por uma Mesa Diretora, uma chapa da Mesa Diretora com outro perfil, que
respeitasse fundamentalmente o programa, e que respeitasse a proporcionalidade,
que respeitasse a pluralidade da Mesa.
O Sr. Dilamar
Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Ver. José Alvarenga, eu quero ter o prazer, logo após o seu discurso,
de entregar uma cópia xerox do ofício que foi encaminhado a mim, como Líder do
PDT, pelo Ver. João Motta, e assinado por vários Vereadores do PT, menos por V.
Exª e pelo Ver. Lauro Hagemann. Eu não sei se V. Exª tem conhecimento deste
texto. Acredito que, depois que ler este texto, V. Exª terá uma certa
complacência com a atitude do PDT, que eu não considero vindita contra o
Governo do Sr. Olívio Dutra - ao contrário: quem se considera ofendido tem que
se defender.
O SR. JOSÉ ALVARENGA: Eu conheço o teor do texto, e, de forma alguma, Vereador, com todo o
respeito que V. Exª merece de minha parte, eu acho que para que nós consigamos
superar estes problemas é necessário abrirmos imediatamente um debate. E a
sugestão que deixo para as Lideranças partidárias nesta tarde é a de que nós
realizemos, no mais breve espaço de tempo possível, um debate sobre as questões
que envolvem a formação de chapas para a Mesa Diretora. Um debate nesta Casa,
com todos os Vereadores, todos os Partidos, onde os meios de comunicação pudessem
dar ampla cobertura, onde pudéssemos contar com a assistência de representantes
de entidades sindicais, entidades comunitárias democráticas desta Cidade,
porque eu acho que esta questão da Mesa Diretora de Porto Alegre vai ter
implicações sérias, e é preciso que o princípio da publicidade deve ser
observado. É este o desafio - eu diria, até porque sei que há oposição a esta
proposta em várias Bancadas - que deixo aos Srs. Vereadores, às Lideranças
partidárias. É a sugestão modesta que este Vereador deixa, para que nós
possamos concluir este debate de forma que a grande vitoriosa seja a cidade de
Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Airto Ferronato, por cessão do Ver. Edi Morelli.
O SR. AIRTO FERRONATO:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pedi este tempo
ao Ver. Edi Morelli, e agradeço a cedência, para expor um resultado, apenas, na
votação do Orçamento do último dia 30, e gostaria de dizer que, na minha
avaliação, as votações foram bem conduzidas e o resultado foi bom para a cidade
de Porto Alegre. Evidentemente que, em algumas proposições que este Relator
entendia deveria ser aprovada ou rejeitada, assim não ocorreu, mas acredito que
o resultado foi oportuno.
Apenas queria, neste momento, me
manifestar sobre aqueles recursos que foram destinados inicialmente pelo Sr.
Prefeito à Cia. Carris. Foram destinados na proposta orçamentária 220 milhões
para aumento de capital, e havia uma série de emendas pretendendo retirar
recursos da CARRIS, e este Relator entendia que o mais oportuno seria pegar
aqueles recursos e redistribuir para outras atividades do setor público, em
especial para as atividades de obras e investimentos na Cidade. Três Emendas
havia que por si só inviabilizariam a aprovação de todas as demais Emendas, e
que seriam: a Emenda apresentada pela Bancada do PDS, que pretendia pura e
simplesmente retirar do Orçamento - e concordo - retirar do Orçamento a
totalidade dos recursos. Esta Emenda, na minha avaliação, tinha apenas um
detalhe que iria modificar o total da proposta orçamentária, ou seja, pela
diminuição desta dotação, se diminuiria também o total da receita e haveria
diminuição do déficit público. O meu entendimento é de que os Vereadores não
teriam esta possibilidade, até porque as normas legais dizem que não podemos
mexer o total da proposta orçamentária. Nós podemos apresentar emendas, porém
não se poderia reduzir o valor total do Orçamento apresentado pelo Executivo,
que seriam de Cr$ 24.914.000,00, e não poderíamos diminuir para Cr$
24.700.000,00.
O Sr. Omar Ferri: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Esta redução não visaria prejudicar qualquer dotação
que tivesse o objetivo em investimentos, obras ou despesa com pessoal, apenas a
diminuição do déficit de tal maneira que eu entendo que, nesta circunstância,
seria possível.
O SR. AIRTO
FERRONATO: É um entendimento respeitado, até porque não há
nada em contrário, mas o ponto fundamental é que foi apresentada uma Emenda, do
Ver. Wilson Santos, que pretendia retirar Cr$ 210.000.000,00 da proposta
orçamentária e transferi-la para o PRODESCOL. Uma Emenda do Ver. Omar Ferri que
retirava Cr$ 120.000.000,00 da CARRIS e redistribuiria essas verbas todas para
o Legislativo. Ocorre que, a partir do momento das dotações, havia um parecer
favorável sobre uma série de Emendas que não foram destacadas. Foi destacada
uma Emenda do Ver. Omar Ferri, que transferiu 50 milhões pelo amparo
legislativo e mais a Emenda que retirava 250 milhões.
O Sr. Omar Ferri: Vou dizer a V. Exª, e vou informar
a Casa, das razões de ordem, isto é, dos motivos pelos quais eu me propus a
esta Emenda. Quanto aos 204 milhões, se não estou enganado, o Orçamento
consignava esta verba para atender a um convênio Prefeitura-Carris; os outros
120 milhões estavam consubstanciando tão-somente uma transferência de capital
em favor da CARRIS. Ora, eu parto do princípio que o Prefeito deveria, estaria
obrigado a justificar das razões pelas quais havia a consignação dessa dotação
em favor da CARRIS. Nós não poderíamos subscrever um cheque em branco, de
acordo com as leis que regem a matéria.
O SR. AIRTO
FERRONATO: Eu quero deixar claro que, inclusive, sempre tive,
desde o início desta preocupação, de dar Parecer favorável a todas as Emendas
que retiraram essas verbas. Eu gostaria de dizer também, então, seguindo este
raciocínio e pelos destaques ocorridos, que foi aprovada uma Emenda do Ver.
Cyro Martini, que retirou 10 milhões da CARRIS e transferiu para as despesas
com sinalização e segurança de trânsito. Foi aprovada, também, uma Emenda deste
Vereador, que retirou 20 milhões da CARRIS e destinou para o DEP. Foi aprovada
uma Emenda que retirou 40 milhões da CARRIS e transferiu para o PRODESCON - e
essa Emenda é do Ver. Wilson Santos, que apresentou durante o processo de votação
e que não teve destaque. Então, nós gostaríamos de dizer que com essas três
Emendas, nós tivemos 10 mais 40 e mais 20. Ou seja, 70 milhões. E a partir
disso foi aprovada uma Emenda do Ver. Omar Ferri que transferiu para a Câmara
120 milhões, que votei contrariamente, porque entendia de votar favorável -
havia inclusive falado com o Vereador - à Emenda de 50 milhões. E vence também
outra Emenda que retirou mais 50 milhões da CARRIS. Então, gostaria de dizer
que nós ficamos num dilema. A CARRIS, que tinha dotação de 220 milhões, dela
foram retirados Cr$ 240.000.000,00. Então, temos que dizer que foi retirado
valor a mais do que a proposta orçamentária que a CARRIS tinha. Neste conjunto
de Emendas ocorreu este detalhe, e uma Emenda deverá ser vetada pelo Sr.
Prefeito, para um ajustamento nas contas.
Outro detalhe, também, é que numa
Emenda que apresentei, retirei 15 milhões dos quase 300 milhões de dotação para
publicidade do Executivo, e aquela proposta transferia para o Legislativo, na
rubrica publicidade. E esta Emenda não foi aprovada. Gostaria de dizer que para
1991 a Câmara de Vereadores de Porto Alegre não dispõe de nem um cruzeiro para
publicidade, e a própria Lei Orgânica diz que, obrigatoriamente, para
publicidade nós devemos ter uma rubrica específica.
O Sr. Omar Ferri: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Não impede, Sr. Vereador, que a Mesa da Câmara ou o
Plenário transfira dotações internas nossas, levando em consideração que o
Poder Legislativo é uma unidade orçamentária, e que também, pela Lei Orgânica,
tem sua autonomia.
O SR. AIRTO
FERRONATO: E concordo com V. Exª, dizendo o seguinte, que no
meu entendimento, um dos primeiros atos, talvez, que deva ser feito a partir de
1991 é exatamente retirar verbas de algumas dotações da Câmara e transferi-la
especificamente para esta área. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela transposição de tempo, com a palavra o Ver. João Motta, que cede
seu tempo ao Ver. Gert Schinke.
O SR. GERT SCHINKE: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, quero me ocupar hoje com um assunto que
considero relevante, na medida que uma série de projetos importantíssimos estão
na pauta de votação, nos próximos dias, nesta Casa. Deveria ser uma preocupação
de todos os Vereadores desta Casa, não é mesmo, Ver. João Dib? A especial
preocupação se dá porque, às vezes - é comum acontecer aqui -, por alegações de
desconhecimento de conteúdo do projeto, se peça que o autor do projeto adie o
projeto por algumas Sessões para dar mais tempo que os Vereadores dêem uma
estudada no projeto.
Pois bem, para tentar evitar o
atropelo dos últimos dias do Legislativo, aqui, que antecede o período do
recesso, quero me antecipar e colocar algumas considerações sobre um Projeto
que nós consideramos do maior significado para esta Cidade. Se trata do Projeto
que institui o patrimônio histórico, cultural e natural do Município de Porto
Alegre, uma Lei Municipal que foi elaborada, na Legislatura passada, pela
equipe do Ver. Caio Lustosa, foi aprovada por esta Câmara, mas sofreu o Veto do
então Prefeito Alceu Collares. Esse Projeto, depois, gerou uma polêmica imensa,
através dos meios de comunicação, porque, na época, a alegação colocada pelo
então Prefeito Alceu Collares dizia respeito à inclusão, nesse Projeto, de um
item que colocava por terra as pretensões do chamado Projeto Praia do Guaíba,
que é do conhecimento de todos, que envolveu uma polêmica, uma discussão com o
movimento ecológico, com o movimento de defesa dos parques da Cidade, e que
inclusive foi palco de episódios que envolveram, por um lado, os que defendiam
a aprovação do Projeto Praia do Guaíba e, por outro, os que estavam contra,
aqui mesmo, nesta sala, em 1988, segundo semestre. O Ver. Dilamar Machado deve
lembrar bem desses episódios.
Diariamente, nós estamos vendo,
nos jornais, projetos de tombamento de patrimônio histórico. Ainda ontem eu me
debruçava sobre um artigo, Ver. João Dib, no “Jornal do Brasil”, onde se
sugeria o tombamento, para o patrimônio histórico e natural, do espelho d’água
da Bacia da Guanabara. Uma matéria imensa, de página inteira; valeria a pena os
Senhores darem uma olhada. E hoje, a exemplo desta que eu citei, há, também, na
“Folha de São Paulo”, uma matéria onde é sugerido o tombamento do Bairro do
Bexiga, em São Paulo, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio
Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, o COMPRESP. Aqui, nós
temos um Conselho semelhante, na cidade de Porto Alegre, que é o COMPAC, cujos
membros conhecemos.
Tivemos um diálogo muito
produtivo no aprimoramento dessa lei que estamos apresentando para entrar em
votação nos próximos dias, que é uma lei composta de quarenta artigos, é a “Lei
do Patrimônio Histórico Cultural” da Cidade, que está em processo de votação.
Queria esclarecer que pedi o art. 81 para agilizar a votação desta lei, porque
o Projeto já tramitou - ele não é de nossa autoria, nós o resgatamos, ele era
de autoria da equipe do então Ver. Caio Lustosa, hoje Secretário Municipal do
Meio Ambiente - e foi aprovado na Legislatura passada, nesta Câmara, mas sofreu
o Veto do então Prefeito Alceu Collares. Aprimoramos o texto desta lei em
conjunto com os membros do COMPAC. Estou apresentando uma série de Emendas,
inclusive oferecendo à Bancada do PDT, Ver. Vieira da Cunha, a possibilidade de
discutirmos o inventário da lista original de tombamento provisório que consta
desse processo, porque neste conteúdo ainda consta a letra “n” do item 32 do 5º
deste Projeto, que diz respeito àquela polêmica gerada com o Projeto Praia do
Guaíba. Ofereço isso à discussão, para a Bancada do PDT, para nós essa letra
“n” não é o maior problema, que pode ser uma Emenda supressiva essa letra “n”,
para que preservemos o corpo deste Projeto que é de fundamental importância
para a Cidade, no momento onde todo o patrimônio histórico, cultural e natural
está cedendo às pressões da ganância, da selvageria, dos investimentos
imobiliários que não respeitam o patrimônio histórico, que desrespeitam, muitas
vezes, os mecanismos legais, Ver. Wilson Santos, passam por cima dos mecanismos
legais. Nós estamos constituindo, com isso, um valioso instrumento para a
Administração, para as futuras administrações, Ver. Wilson Santos, ter nas suas
mãos mecanismos ágeis e eficazes de defender o patrimônio histórico e natural
desta Cidade.
Nós estamos abertos para discutir
algumas emendas que poderão ser apresentadas via Liderança, mas o que nós
queremos preservar, essencialmente, é o corpo deste Projeto. Inclusive, estava
querendo terminar a minha explicação sobre o motivo que me levou a pedir o art.
81. Eu dizia que este Projeto tramitou por todas as Comissões desta Casa, e eu
apresentei uma Emenda que incluía o Brique da Redenção como patrimônio no
Inventário do Patrimônio Cultural, aí o Projeto voltou a todas as Comissões,
teve que percorrer todas as Comissões, e quando chegou para ser relatado pela
Comissão que integra o Ver. Dib, este Vereador encaminhou um pedido de vistas,
diligências, sobre este Projeto. Certamente, eu entendo que o Ver. João Dib
estava preocupado, dada a dimensão deste Projeto, e queria algumas explicações
do Poder Executivo, o que acho muito natural, mas como não temos o controle
sobre as respostas que o Executivo dá ou não dá - além do que o Poder
Executivo, através da Secretaria Municipal de Cultura, através da Secretaria do
Governo Municipal, está acompanhando a tramitação desse Projeto e, inclusive,
colaborou conosco na apresentação de algumas Emendas -, achei completamente
desnecessária esta diligência, e por isso pedi, então, que se fizesse a votação
em caráter de urgência deste Projeto.
Estou abrindo a possibilidade -
quero salientar - estou aberto a emendas que realmente preocupam em aprimorar o
Projeto, em preservar o corpo deste Projeto que é fruto de uma enorme discussão
de toda a sociedade civil relacionada com a questão do patrimônio histórico
cultural.
O Sr. Ervino Besson: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Gert, fiquei prestando atenção ao seu discurso,
V. Exª tem toda a razão. Eu inclusive já denunciei aqui desta tribuna, V. Exª
se recorda, quando eles estavam construindo o Kastelão da Av. Teresópolis. Ali
existia uma casa histórica, eu tenho certeza, a casa mais antiga da Zona Sul de
Porto Alegre. Depois que o Kastelão estava pronto que a comunidade se levantou.
Aquela casa foi tombada numa noite, Vereador. Hoje, aquela população está
sentindo, na carne, que o benefício que traz aquele supermercado é muito menor
que o malefício que ele traz para aquela população, visto a problemática do
trânsito e de outras coisas que aconteceram lá. E a casa histórica simplesmente
desapareceu, foi derrubada numa noite.
O SR. GERT SCHINKE: Eu agradeço o aparte. Eu apenas peço que os Srs. Vereadores dêem uma
olhada, uma revisada neste Projeto que nós estamos pedindo para ser colocado em
votação nos próximos dias. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Omar Ferri, em Comunicações.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, noto que não se encontra no Plenário o
Ver. Clóvis Brum. Gostaria que ele estivesse aqui.
Alguns Vereadores que me
antecederam usaram esta tribuna para fazerem manifestações sobre notícias
publicadas nos jornais. Um falou sobre o custo de vida. O outro falou sobre uma
notícia publicada na coluna do Sr. Barrionuevo. Eu, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, parto do princípio que os Vereadores desta Casa lêem jornais. E
quando eu falo “lêem jornais”, especialmente aqui no Rio Grande do Sul, o
“Correio do Povo”, a “Zero Hora” e o “Jornal do Comércio”. A coluna do
jornalista José Barrionuevo, publicada na página 2 do “Correio do Povo”,
assinala, na terceira coluna, que existe uma tempestade nesta Casa, e diz que a
boataria é grande na Câmara Municipal, é grande, e que envolve denúncia de
caixinhas nos gabinetes com recursos provenientes dos salários de assessores. E
a coluna informa, também, que será protocolado hoje, não diz onde, um pedido de
cassação de um Vereador por corrupção.
O Sr. Gert Schinke: Como é que foi?
O SR. OMAR FERRI: V. Exª não leu os jornais ou
está surpreso com a notícia? Ou porque não leu o jornal? Deveria ler. Então,
faço um exame de consciência e me pergunto se é possível deixar passar a
notícia em brancas nuvens; se uma notícia tão grave que envolve a Casa poderia
transitar nos jornais e passar nesta Casa como se nada tivesse ocorrido, ou
como se não devêssemos obrigações éticas e morais à imprensa e ao povo. Eu até
faço um exame de consciência, da minha consciência. Seria lícito que eu me
recolhesse ao silêncio? E os meus deveres, os meus deveres com a minha consciência,
os meus deveres com a ética, com a moral e com a decência? E se amanhã ou
depois de amanhã algum jornalista, a imprensa ou alguma instituição indagasse
qual a providência tomada pela Casa face a tão grave notícia? Esta notícia não
cita em especial nenhum Vereador, mas, além da notícia, foi distribuída a todos
os Vereadores uma carta datada de 08 de novembro de 1990, ao Ver. Clóvis Brum.
Em primeiro lugar, eu não estou
condenando a ninguém, estou tecendo considerações a respeito de fatos e de denúncias.
Eu acho que quem deve esclarecer em caráter definitivo à Casa é o Vereador
citado. Por que, Sr. Presidente? Porque há uma parte que diz respeito à Casa,
diz respeito a todos nós, diz respeito à comunidade, e que diz respeito à
população de Porto Alegre. Eu vou ler as quatro linhas que diz respeito à Casa
e à população: (Lê.) “No início, o convite foi feito para que nós ganhássemos
dinheiro trabalhando. E eu até me entusiasmei quando nos reunimos com o Dr.
Paulo para dar solução jurídica às suas terras, que estavam impedidas de serem
comercializadas, e no fim foi o que se viu, uma rejeição do Veto.” Isso diz
respeito à Casa. (Lê.): “... onde rolou muito dinheiro por baixo, solucionando
o problema do Dr. Paulo, do amigo, de alguns Vereadores. Só não sobrou dinheiro
para mim, embora tenha gasto muito combustível para ir buscar os milhões com o
meu carro, na agência do Banrisul na Vila Ipiranga”.
Ver. João Dib, me vem à memória o
início da minha vida política, quando eu denunciava ao Jornalista Flávio Tavares,
que era um dos melhores redatores da “Última Hora”, o grave escândalo que
abrangia toda a região do Vale do Taquari, Vale do Rio Uruguai, começava por
Encantado e terminava em Erechim, respingando em Cruz Alta, Carazinho e Passo
Fundo. Foi o maior escândalo da época, o chamado escândalo do trigo-papel.
Depois denunciei o Dep. Federal Paulo Mincarone, que andou rifando um
transatlântico sobre rodas e que amealhou muito dinheiro na época da ditadura,
embora deputado cassado e que tivesse jogado esse dinheiro na nossa cara,
inclusive impedindo este Vereador de falar em vários comícios de municípios,
onde ele imperava como um verdadeiro rei e tinha condições autoritárias de
proibir a minha voz. Mais tarde, eu, na condição de 1º Secretário do PMDB do
Estado do Rio Grande do Sul, denunciei o Dep. Estadual Hilário Braun, porque
ele, na condição de Presidente da Comissão de Reassentamento de Agricultores
Sem Terra da Assembléia Legislativa, usava empregados da Prefeitura de Três
Passos para requererem terrenos num loteamento rural chamado Miracema do Norte,
no interior da Bahia, e tendo em mãos procuração desses cidadãos, transferiu
todos esses lotes para ele próprio. Então, eu fiz esse exame de consciência
para saber se me seria lícito me calar em hora tão grave.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, eu não estou preocupado com a nota do
“Correio do Povo”, até porque durante o ano de 1989, dos cargos que eu dispunha
em meu gabinete usei dois, e ainda têm cargos vagos lá. Mas eu estou seriamente
preocupado porque esta Casa, neste momento, segundo eu imagino e sei, deveria
estar reunida na plenitude de seus trinta e três Vereadores. E V. Exª seria
dispensado de passar o trabalho que passou agora na tribuna, se a Casa, pela importância
do documento que deu entrada, tivesse sido reunida pela sua Mesa para que nós,
Vereadores, tomando ciência do documento que deu entrada, nos posicionássemos.
O SR. OMAR FERRI: Ver. João Dib, devemos neste
momento separar o joio do trigo; se existem maus, devemos realçar que também
existem os bons, aqueles que cumprem os seus ideais em elevadas expressões de
espíritos. Eu não me chamei ao silêncio. E para que a Casa, igualmente, não se
chame ao silêncio, vou enviar correspondência ao Sr. Presidente, pedindo que a
Casa tome as providências que considerar cabíveis. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Adroaldo Corrêa, em Comunicação de Liderança.
O SR. ADROALDO
CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Partido dos
Trabalhadores tem uma posição clara a respeito de denúncias: oferecidas, devem
ser provadas; e o réu é inocente, até prova em contrário. Por isto, fez aqui
uma sessão em homenagem aos colonos que estão presos - no nosso entendimento,
injustamente - em função do episódio da Praça da Matriz, Esquina Democrática,
Prefeitura de Porto Alegre, que era o Movimento Sem Terra e um conflito com a
Brigada Militar, que resultou na morte do Soldado Valdeci. Denúncias podem ser
oferecidas e denúncias devem ser provadas, ou retiradas. Esta a posição do
Partido dos Trabalhadores.
Sabemos e estamos à procura do
exato momento em que o Protocolo recebeu, do ex-Assessor do Ver. Clóvis Brum, o
documento endereçado ao Sr. Presidente desta Casa, que oferece a denúncia. Não
o lemos, conhecemos algumas informações e também ouvimos alguns comentários,
como um jornalista do “Correio do Povo”, em coluna assinada, publica, a título
de chamar o assunto à baila. Mas também o jornalista não publicou as provas. Há
suspeitas. Não creio que sobre a Câmara de Vereadores como um todo, não creio.
Envolve um Vereador que pode se pronunciar ou não. Se provar, pronunciar-se-á a
própria Mesa e a Câmara de Vereadores, porque o Processo, pelo que sei, pede a
cassação do Ver. Clóvis Brum, e a cassação é resolvida em função de inquérito
da Mesa, que encaminha ao Plenário, que vota. E a Câmara tem ações públicas,
permanentemente aberta aos jornalistas, à Cidade. E todos os Vereadores podem
se pronunciar na discussão do Projeto em debate. Nós achamos - e dependendo da
hora em que isto foi protocolado, e talvez eu tenha condições de obter esta
informação ainda hoje - e nós todos saberemos, a Mesa terá oportunidade de ver
o documento, debatê-lo, ouvir as razões do denunciante, ouvir o denunciado, que
é membro da Mesa, um dos Vice-Presidentes da Casa, e, se necessário e assim
decidir, encaminhar o processo. Com certeza, a Mesa terá a mesma postura.
Provas devem ser oferecidas, denúncias - sobre quem quer que sejam, Vereador ou
cidadão, que não o deixa de ser um Vereador, embora num mandato - devem ser
provadas, sob pena de repetir cartas, documentos, que na história desta
República há bastante exemplos, que venham a se tornar, pela simples
assinatura, às vezes falsificada, a prova suficiente da culpabilidade de
alguém. A Mesa não terá dúvidas em encaminhar a investigação para consolidar
denúncias com provas de culpa, isto através da investigação.
Acreditamos que, para início de
conversa, e somente, deve ser esse o comportamento de qualquer cidadão. Ainda
que não tenha a hora de registro no Protocolo - e poderemos saber com o próprio
denunciante qual turno que veio -, sabemos que foi no dia de hoje, Ver. Dib,
embora não possa lhe dar aparte. Porque a Mesa hoje não estava reunida. E
porque, nesse momento, a Câmara não está com os trinta e três Vereadores
ponderando sobre esta que é, ainda e tão-somente, uma denúncia. É o Processo nº
2499/90, encaminhado ao Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, dia 04 de
dezembro de 1990, no turno da manhã. Por compromissos que tem a Assembléia
Legislativa, conforme me informei junto ao Gabinete da Presidência, o Sr.
Presidente nos pediu, ao Secretário e a mim, que abríssemos a Sessão de hoje,
que ainda não encerrou, e que, a posteriori, talvez a própria Mesa tenha
este encaminhamento de se reunir, para, aí, a Mesa, a partir da iniciativa do
Presidente, conhecer a denúncia e, quem sabe, encaminhar um processo, ou outra
decisão. Desde já, o PT - e sua representação na Mesa, por este Vereador - tem
esta posição: denúncias provadas; e réu, eventualmente denunciado, inocente até
prova em contrário. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Questão de Ordem com o Ver. Omar Ferri.
O SR. OMAR FERRI
(Questão de Ordem): Acabo de tomar conhecimento que há realmente. Eu
apenas li uma notícia no jornal, mas acabo de tomar conhecimento que existe,
realmente, um expediente, que este expediente tem número 2499/90, e eu requeiro
a V. Exª que a Mesa distribua cópia deste expediente a todos os Srs.
Vereadores, para que os Srs. Vereadores saibam exatamente o conteúdo deste
pedido: se é verdade que há um pedido de cassação de um Vereador. Não se sabe
muito bem o que é, mas a notícia foi pública e nós temos, então, o dever de ser
esclarecido sobre a matéria.
O SR. PRESIDENTE: Quero comunicar ao Plenário que, embora transitoriamente na Presidência
da Casa, em nome da Mesa, se adotarão todas as providências que forem
necessárias para que este procedimento, que não é usual - pelo menos nos
últimos anos não aconteceu -, tenha a sua elucidação o mais transparente
possível. O Processo protocolado não chegou, pelo que eu sei, até o Gabinete da
Presidência. Tão logo chegue, as providências serão adotadas, a Casa será
convocada a apreciar o processo. Eu apenas gostaria de lembrar que o art. 67 da
Lei Orgânica regula esta questão. E dentro deste critério é que nós vamo-nos
orientar.
O SR. JOÃO DIB
(Questão de Ordem): Nobre Ver. Lauro Hagemann, eu, como simples
Vereador desta Casa, quero colocar a minha preocupação. Eu havia dito, em
aparte ao Ver. Omar Ferri, que nós todos deveríamos tomar conhecimento do
documento protocolado. Agora, acho que deveria ser de forma reservada, até para
que não se cometa injustiça, porque, de repente, alguém acusa e não consegue
provar. Acho, então, que o ideal seria que esta Casa fosse reunida a pedido do
Presidente, para que nós pudéssemos - com isenção, com tranqüilidade - nos
situarmos no problema. E, evidentemente, a Lei Orgânica, no inciso V, do art.
67, diz o que deve ser feito. E acredito que o Sr. Presidente fará as
determinações necessárias.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa quer tranqüilizar a Casa, que todas as providências serão
tomadas, e todos os interesses resguardados.
Estão encerrados os trabalhos da
presente Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 15h49min.)
* * * * *